sexta-feira, 6 de junho de 2014

A morte é uma coisa muito chata

A morte é uma coisa muito chata

É chato quando bate uma vontade de ver uma obra, música, filme, livro, etc., de algum artista que você gosta, e você só poder ver algo já visto, por esse artista já ter morrido.

Me bateu uma vontade hoje de ver um filme do Chaplin, mas ao ponderar qual seria, fui percebendo que já vi todos, inúmeras vezes. E queria ver algo inédito, do qual não conhecesse nada ainda.
Por mais que suas obras sejam ótimas, e valha a pena revê-las, e as vezes faço isso com as obras dos artistas que gosto, as vezes a gente (ao menos eu) quer o prazer de descobrir algo totalmente novo.
E dá uma tristeza saber que nunca mais terei (teremos) trabalhos novos de Charlie Chaplin, de Stanley Kubrick, de Raul Seixas, Cassia Eller, Renato Russo, Michael Jackson (por isso gostei tanto de seu

holograma na Billboard 2014. Não era ele realmente, mas foi tão bom ver uma "nova" obra sua), Fred Mercury, Marlon Brando, Bruce Lee, Gene Kelly, Fred Astaire, Ingrid Bergman, Isaac Asimov, o recente José Wilker e muitos, muitos outros.

Embora revisitar uma obra possa trazer novos prazeres, percepções de nuances, detalhes não antes percebidos, descobertas de coisas que passaram desapercebidas anteriormente, e até mesmo mudar sua opinião, sentimentos pela obra. Lembro que li "Dom Casmurro" de Machado de Assis, pela primeira vez, por volta dos meus 14 anos, por iniciativa própria, não era uma obrigação escolar ou algo parecido. Ouvia/lia muito falar de Machado de Assis e principalmente de Capitu e seus "olhos de ressaca", e queria conhecer seu trabalho, principalmente essa obra. Detestei, achei chato a beça, maçante, lento, texto muito
complicado (tinha que parar a leitura a todo instante para consultar o significado de alguma palavra totalmente "alienígena" a mim)... Enfim, não gostei. Anos depois, já adulto, fui relê-lo... e adorei.

Consegui perceber e apreender a sua substancia (ao menos mais que à época, afinal quem sou eu para afirmar ou negar se Capitu traiu ou não :) ) , coisa que em minha adolescência não tinha sido apto a captar. As obras e seus impactos em nós mudam com o tempo. Nossas experiências, vivencias, sucessos, fracassos, amores, desamores, valores, crenças e descrenças, conquistas e derrotas, podem tornar a mesma obra totalmente diversa nos hiatos do tempo.

Mas por mais que uma obra possa renascer quando revista, há horas que dá vontade de desfrutar de algo realmente novo de alguém que gostamos... e a morte, essa insensível, não permite.

Enfim, a morte é muito chata.

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