domingo, 27 de julho de 2008

Speed Racer e a "espetacularização extrema" do cinema atual

Speed Racer

Acabo de ver Speed Racer, "versão Wachowski Brothers", e uma constatação me veio a mente a respeito dos filmes de ação, entretenimento do cinema mundial hoje em dia, principalmente os chamados "blockbusters", mas notadamente nos "hollywoodianos", embora os cinemas de outra origem (europeia, asiatica, etc.) também padeçam desse "mal".
E que mal é esse? É a "espetacularização" extrema das cenas de ação. Explico. As cenas/sequências de ação têm que ser espetaculares, embasbacantes, acima de todas as expectativas, mesmo que para isso as leis da física tenham que ser ignoradas. Álias, será que os cineastas de Hollywood, estudaram física na escola? Será que conhecem as leis da mêcanica de Newton?
Porque para eles não basta que um carro em alta velocidade se choque contra um muro e se parta ao meio, matando seu piloto. Esse carro deve vir rodopiando, capotar 33 vezes, se chocar contra o muro, explodir expelindo um cogumelo atômico de fogo e fumaça, seu piloto deve ser arremesado (também rodopiando) a 333 metros de distancia... e aí duas coisas devem ocorrer, dependendo se o piloto é o mocinho ou o vilão (e em que ponto do filme estamos);

Vilão: seu corpo será arremessado, rodopiando obviamente, mas em chamas, se chocará contra um poste, se partirá em duas partes, que cairão quicando no chão, se arrastará ainda por mais alguns metros, e na parte que contem a cabeça, a boca expelirá um jato de sangue e por fim repousará inerte e morta com os olhos bem abertos e em sua expressão um esgar, misto de dor, ódio e surpresa, por ter sido derrotado, logo ele, o super-ultra-ubber-hipper "qualquer coisa" que ele disputasse com o mocinho.

Mocinho: seu corpo será arremessado, rodopiando obviamente, mas em chamas, se chocará contra um poste, por fim repousará inerte. Aí provavelmente ocorrerá uma das duas opções:
seus amigos/familiares/amores correrão para ajuda-lo, tentarão reanima-lo em vão, após alguns segundos de tensão em que "todos" pensaremos que o pior aconteceu, ele abrirá lentamente os olhos e alguém (em geral o grande amor de sua vida) o abraçará e entre lágrimas dirá;

_ Nunca mais faça, isso, ouviu seu "idiota"! Pensei que havia lhe perdido para sempre!
no que ele responderá;
_ Voce não se livrará de mim assim tão fácil!

Ou segunda opção provável; ele permanecerá desacordado, será levado para um hospital, em que médicos dirão que as probabilidades dele sobreviver são mínimas, somente um milagre poderá salva-lo... E voilá! eis que o milagre ocorre e ... algum tempo depois ele surge totalmente recuperado e pronto para outra, sem nenhuma seqüela e em melhor forma e com capacidades acrobáticas de fazer inveja aos irmãos Hipólitos, da ginástica Olímpica (me recuso a dizer ginástica artística).


Emile Hirsch como Speed racer

Eu, particularmente, perco o envolvimento, a "preocupação" com os personagens, quando as leis da física são por demais ignoradas. Gosto de um pouco de exagero, é divertido, mas acho que o limite foi por demais ultrapassado nos filmes atualmente. Se o protagonista é um ser com poderes sobre-humanos, (ou for uma comédia), aí tudo bem. Mas seres humanos normais que simplesmente não morrem a despeito de despencarem do topo do Empire State Building, simplesmente tiram todo o meu "tesão" de ver o filme.

Já há algum tempo, quando alguém da um soco, se pegar na parede, não basta marca-la, essa parede tem que ser atravessada pelos punhos do mocinho ou vilão. Porém já não causa tanto dano quando pega em cheio no "pau" do nariz de um deles. Engraçado!

Esse Speed Racer, "versão Wachowski Brothers", é um desses casos. Deu pra sentir algum medo, preocupação com a saúde de Speed ao ve-lo correr naquelas pistas e com aquelas manobras que provavelmente revolveram Sir Isaac Newton em sua tumba? E que pistas são aquelas??? Ridículas. Ok!, o filme é baseado em uma animação japonesa e quis emular esse universo. Mas mesmo lá, na animação, havia um respeito maior pelas 3 leis da mêcanica clássica.


Família Racer dos desenhos animados...


... e sua versão de carne e osso.

Fico imaginando como os cineastas hollywoodianos "reescreveriam" o epísodio que resultou na morte de Ayrton Senna. Pois a tragédia em si não teve nada de especialmente espetacular. O carro vinha em alta velocidade, seguiu reto, se chocou contra o muro, e se arrastou por alguns metros com alguns danos na carroceria. Porém foi mais aterrador que qualquer sequência de acidente desse Speed Racer. As vezes o "real", o possível, é muito mais impactante, justamente por isso mesmo; sabermos que é posivel de ocorrer na vida real.

Ah! E por que cargas d´água Pops (pai de Speed) quardou para si a informação de como fazer o carro "pegar" quando desse alguma pane, tipo a que deu na última corrida? Será que ele sabia dos dons paranormais de Speed de "conversar" com o carro?! Bem, se fosse meu filho correndo, numa corrida que mais parece uma versão moderna das lutas de gladiadores em que a chance de sair vivo (e não só vencer) depende de que seu carro ande quando voce pisa no acelerador, eu teria contado esse "pequeno" segredinho" para ele, e quem sabe até mesmo pro mecânico.


Racer X (no Brasil Corredor X) dos desenhos...


... e sua versão carne e osso, na pele de Matthew Fox,
que alías ficou perfeito no papel
.


Emile Hirsch e Christina Ricci, como Speed Racer e sua
namorada
Trixie



ficha do filme no IMDB http://www.imdb.com/title/tt0811080/


Um comentário:

RENATO SILVEIRA disse...

Grande xlucas. Concordo em parte contigo. Acho que o exagero "tira" você do filme, sim, mas quando o caso são filmes do Michael Bay, por exemplo. Cito "Bad Boys 2" e seus trocentos carros capotando. Outro exemplo: os 007 estrelados pelo Pierce Brosnan. Mas no caso do "Speed Racer" eu não achei ruim, porque é justamente isso: um desenho animado. Eu queria o exagero. Por isso não me incomodou. Mas você está certo quando diz que é uma tendência essa espetacularização. Cortesia do CGI. :)

[]s!